
Alysson Amâncio Companhia de Dança – Jota Júnior Santos, Luciana Araújo, Michele Santos, Lucivânia Lima, Faeina Jorge, Rosilene Diniz, Alyne Souza, Kellyene Maia, Alysson Amâncio, Adriano Modesto, Luciany Maria depois do espetáculo Boa Noite Cinderela – http://www.alyssonamancio.com.br – Foto ©Tiago Gambogi
Cidade 3: Juazeiro do Norte, Ceará. A cidade está próxima à Rodovia Transamazônica (BR-230). Apesar de não estar na rodovia, foi importante conhecê-la, principalmente pela questão da religiosidade e devoção ao Padre Cícero. Descobri muitas outras coisas! Datas: 9/9/2012 a 20/9/2012
Duração: 10 dias, 11 noites
Juazeiro do Norte, quinta-feira, 20 de setembro de 2012, 7h30min, indo em direção à Oeiras (Piauí).
SAÍDA DE JUAZEIRO
Devagar, como que com sono, o ônibus, faz marcha a ré e começa a sair da rodoviária às 7h30min. Meu estômago fica estranho, a respiração se altera e o coração aperta. Lágrima. Como é difícil sair de uma cidade quando se cria uma afetividade ali! Richard Bleasdale (videomaker inglês) me pergunta: “O que é que você procura? O que é que você descobriu?” Amor, carinho, paixão. Toda e qualquer forma de amor – um abraço, uma conversa, uma troca positiva em uma aula de dança, um sorriso de agradecimento no fim do dia, um beijo tórrido, um obrigado, esperança para continuar a viver. Em Cabedelo e Cajazeiras, o amor também estava presente! Talvez o diferencial em Juazeiro do Norte foi o fato de ter me conectado com a coletividade de um grupo. Conhecer e ministrar aulas de dança e teatro físico na Associação Dança Cariri, Alysson Amâncio Companhia de Dança e Universidade Regional do Cariri (URCA), permitiu-me a criação de fortes laços de trabalho e amizade.
Voltemos ao início então…
CHEGADA A JUAZEIRO
Juazeiro do Norte, domingo, 9 de setembro de 2012.
Saio de Cajazeiras (Paraíba) no domingo, aquele dia quieto quando às vezes paira melancolia no ar. Daniel foi generoso e não me cobrou a última diária da pousada….e me levou de carro à rodoviária. Obrigado, amigo!
Juazeiro é maior que Cajazeiras, mas, no domingo, tudo também é quieto. Na rodoviária, o taxista Yoram me ajudou a encontrar uma pousada.”Boa e barata”, eu disse. “Hum, difícil…”, ele completa. Vamos ao centro, mas estão todas cheias, pois cheguei exatamente no período da romaria. Cheguei na hora certa – sincronicidade! Achei um quarto próximo ao estádio de futebol, o “Romeirão”. Simples, mas sou bem-vindo na Rua das Flores.

Estátua do Padre Cícero – Colina do Horto – Foto ©Tiago Gambogi
Juazeiro do Norte, segunda-feira, 10 de setembro de 2012.
Fui à colina do Horto onde se encontra a grande estátua do Padre Cícero. Majestosa, ela abençoa a cidade. De manhã cedo, o ônibus sobe a ladeira, lotado, são os romeiros, como dizem aqui. Linda vista, casas simples, outras mais pobres, alguns terrenos vagos e sujeira, infelizmente. Lá em cima, lojinhas com presentes, terços, fitinhas do Padre Cícero, etc. Os fotógrafos veem minha câmera e querem conversar. Conversei com Carlos, trocamos figurinhas sobre fotografia. Ele fotografa quase todos os dias as pessoas ali próximas à estátua. Imprime as fotos “em material fotográfico original”, diz orgulhoso, lá em seu escritório próximo às lojinhas. Também faz casamentos, e “o que precisar”, disse ele. De longe eu ouço um padre rezando uma missa. Caixas de som em vários postes. A igreja está cheia e a maioria dos fiéis são senhoras com mais de 60 anos. Algumas jovens acompanham as senhoras. O padre termina a missa e pede a contribuição do dízimo.
Foi legal. Talvez precisasse ir mais fundo, ter conhecido um padre ou uma beata ali. Fiquei admirando a vista, filmando e fotografando a estátua de Padre Cícero. Mas tudo bem, eu teria mais tempo e me encontraria com Fátima Pinho nos próximos dias, historiadora e mestra especialista na história de Padre Cícero. Procuraria também acompanhar várias procissões e entrevistar alguns romeiros.
O ponto de ônibus estava lotado e decidi voltar a pé para conhecer a colina, fotografar e caminhar um pouco. Descida íngreme, sol quente, paralelepípedos finos, casas simples coloridas, casas de taipa, passeio irregular, bares, lojas, pessoas trabalhando. Vamos que vamos. Lá embaixo, pergunto a uma senhora como chegar ao centro. É a Dona Francisca, está com sua sombrinha aberta, afinal o sol de meio-dia aqui “não é brincadeira não meu filho”, ela diz. “Você é branquinho, tem que tomar cuidado, viu?”. Ela me indica o caminho, mas eu vejo que ela está indo pra lá como eu. Diminuo meu ritmo, ofereço para levar suas sacolas e vamos conversando. Dona Francisca tem duas filhas, três netos, um deles é “especial”, ela diz, e estuda na APAE. Todos os dias ela tem que ir até a casa da filha fazer o almoço e cuidar do menino. “Ele já tem 15 anos, mas parece uma criança pequena, tenho que ajudá-lo a fazer tudo: a tomar banho, a amarrar o sapato…ele fala pouco…mas é um doce, muito carinhoso…”, ela fala. A gente caminha uns 30 minutos. Ela diz que trabalhava em uma escola e que era muito bom. “Trabalhar com crianças alimenta a alma da gente”, ela sorri. Dona Francisca é simpática, rosto forte, moreno de sol, as rugas ali presentes, história de vida no seu corpo. Ela é linda! Falo o que estou fazendo aqui e ela diz: “Nossa que trabalho diferente, deve ser difícil…eu não queria não!”. A gente ri. Chegou! Terminal de ônibus. A gente se despede com um abraço. Digo: “Vejo a senhora em Juazeiro!”.
No primeiro dia em uma cidade é bom conhecer o máximo de lugares e pessoas possíveis, para facilitar o processo durante a semana, fica mais fácil assim. Descobrir coisas práticas (banco, restaurante, supermercado, a geografia local), pessoas e organizações que sejam de interesse do projeto. “Vai à luta!”, dizia Cazuza. Então, decidi acelerar o ritmo. Em uma lan house, pesquisei na internet sobre Juazeiro do Norte. Li sobre sua história, a importância de Padre Cícero para a cidade. Na Wikipedia, na parte sobre cultura, li sobre a Alysson Amâncio Companhia de Dança e a Associação Dança Cariri. Veja: www.alyssonamancio.com.br. Foi uma ótima surpresa, pois não sabia da existência de uma companhia de dança na região. E quando acessei seu site vi que realizavam um trabalho de alta qualidade. Imediatamente enviei um email para a companhia me apresentando e oferecendo uma aula de dança contemporânea gratuita. Em 10 minutos, Alysson me ligou no celular. Mostrou-se surpreso quando confirmei que gostaria de ministrar uma aula gratuita. Agradeceu e agendamos para o próximo dia, terça-feira, às 19horas.
Fiquei feliz! Gosto de ministrar aulas e oficinas. Às vezes tenho um pouco de dificuldade em ministrar cursos de longa duração, devido aos altos e baixos do processo, saídas e faltas de alunos. Mas cursos intensivos são frutíferos para mim – explosivos, vitais, felizes! Saí alegre da lan house e pensei…vou cortar o cabelo pra ficar mais leve…pra poder dançar e voar! E lá fui eu. Fiz mil e uma coisas: mercado central, rodoviária, comprar cabo usb sobressalente, verificar ônibus para a próxima cidade, entre outras. E um suco para hidratar, porque aqui o suor pinga só de ficarmos de pé!

Procissão Segunda-feira – Foto ©Tiago Gambogi
Às 17:50 fui em direção ao Colégio de Misericórdia para a saída da procissão. Chego tímido. Uma senhora me dá uma bandeirinha de Nossa Senhora das Dores e entro na pequena sala onde uma missa é celebrada. O padre abençoa todos e saímos para a rua. Vários fiéis seguram a imagem, as senhoras carregam velas. Algumas têm um véu sobre o rosto. A presença de uma banda, uma fanfarra esperando, todos vestidos a caráter. Na esquina, um trio elétrico. Não toca axé da Bahia…é uma grande plataforma para oração.
A procissão segue. É emocionante. Orações, cantos, a banda toca música militar e também canções antigas. A vibração é forte. Seguimos em direção à Igreja Matriz. A missa é celebrada. Fotografo e filmo tudo lá de cima, junto aos padres e aos outros fotógrafos. Bandeirinhas ao alto, todos cantam. Num momento de silêncio, as pessoas com os olhos fechados, vejo uma pequena lágrima no rosto de uma romeira.

Procissão Segunda-feira – Foto2 ©Tiago Gambogi
Depois da procissão vi uma moça vendendo artesanato à distância. É a Jeane! Ela chegou perto, conversamos, contou que já morou na Noruega, que joga capoeira. Comprei uma pulseirinha que ela fez. Jeane tem um sorriso lindo, uma abertura para o mundo que encanta. Disse que está apaixonada e vai mudar com seu amor para Porto de Galinhas. Achei bonito sua história. A gente trocou e-mails. Uma semana depois ministraria uma terceira aula na Associação Dança Cariri e Jeane estaria lá, sua primeira aula de dança contemporânea na vida. E depois ficaria amiga dos bailarinos. Bela mágica dos encontros!
Para quem está armado…a solução é desarmar, né? Afinal, a vida não é uma guerra, hum? Viva o clown! Matuto é o que vem do mato, disse Andrea, moça namoradeira na janela em Cajazeiras. Sertanejo é o que vem do sertão, disse o seu Luiz Brito em cima do jegue. E o viajante? “De onde você é? Você é filho de quem? O que é que você veio fazer aqui?” Como Cesar Volpe e eu descobrimos em São Tiago, Minas Gerais, durante o Projeto Nazdraví em 1999, a única resposta é: “Somos do mundo, somos filhos de Deus e viemos aqui para ser felizes!”

Rua São Paulo – Foto ©Tiago Gambogi
Impressões
Juazeiro tem ruas longas e retas na sua área central.
De um ponto se encontra a Igreja Matriz.
No ponto oposto da Rua São Paulo, se encontram uma igreja evangélica e um cabaré.
Lado a lado convivem amigavelmente:
“…as meninas do cabaré frequentam a Igreja Evangélica…”, disse-me o pastor.
“Elas querem mudar de vida”, ele afirmou com certeza.
“Sou de Pernambuco, cheguei aqui semana passada”, disse-me a moça na porta do cabaré. Coincidentemente, nas suas costas ela tinha uma tatuagem, lia-se: “Deus”.Junto ao meio-fio uma água malcheirosa e escura corre, “água sebosa…coisas boiando, o prefeito deveria fazer alguma coisa”, disse uma senhora.
É esgoto a céu aberto.
Será essa água o que temos em comum? É ela que nos une?

Água sebosa – Rua São Pedro – Foto ©Tiago Gambogi
Várias ruas com nomes de santos:
Rua São Paulo, Rua São Pedro, Rua Santa Luzia.
Quem não é santo ainda está em processo de beatificação:
Rua Padre Cícero.
Ela vai longe, até a cidade do Crato.
“Um homem me disse que estava viajando, que foi para o Crato!”, disse Jeane, rindo.
“É o lugar mais longe que ele já foi”, ela disse. O Crato é a cidade vizinha, a 25 minutos daqui.
De dia lojas e movimento de pessoas, parece o centro de Belo Horizonte.
De noite tudo vazio, a não ser por algumas lanchonetes que servem pizza e sanduíches.
Em várias praças, equipamento para as pessoas se exercitarem.
É a chamada “academia popular”. Acho que dá popularidade ao prefeito.
Vi uma senhora de uns 70 anos se exercitando com muita vontade.
Legal!
Várias pessoas pedem cajuína no bar, peço também, sem saber o que é.
No Ceará, é um refrigerante gaseificado de caju, no Piauí, é mais concentrada, mas não gaseificada, disseram-me. Caetano Veloso escreveu a sua música “Cajuína” logo após a morte de Torquato Neto, em 1972, ano em que a Transamazônica foi inaugurada. Veja a estória por detrás da música no blog Passeando pelo Cotidiano: http://passeandopelocotidiano.blogspot.com.br/2011/05/historia-por-tras-da-musica-cajuina.html Aí vem a pergunta ontológica:“Existirmos a que será que se destina?” Caetano Veloso, na música “Cajuína”. E eu te pergunto: O que é que te move adiante?
Lindo dia. Mil atividades e novas conexões. Plantando as sementes para a semana. Senti-me vivo – carequinha conectada com os céus. Especialmente à noite na procissão – a banda, a música, a fé. Tanta gente simples, e cheia de fé. Há algo de bom ali, mesmo para quem não é religioso ou não acredita em Deus. Mas eu acredito sim. Algo existe, com certeza. E eu ali, caminhando, vivendo, sendo um romeiro videomaker, lado a lado com os outros – junto e imerso.
Juazeiro do Norte, terça-feira, 11 de setembro de 2012.
Acordar cedo. Corpo: yoga tai-chi no quarto apertado. Reconectar com a linguagem do corpo e preparar a aula de dança. Tensões do corpo. Alongar. Fortalecer. Gemer. Cansaço.
Fui ao centro. Comprei uma máquina de lavar bem barata na casa de material de construção – 30 centavos! É um plug, uma tampa pro ralo da pia. Viva a tecnologia das mãos, dos plugs e das pias!

Entrada da Associação Dança Cariri – Foto ©Jota Júnior Santos
Aula na Associação Dança Cariri
A aula foi fantástica! Sala cheia – profissionais e também estudantes mais jovens, idades diferentes. Preparei uma aula técnica de dança contemporânea com alguns exercícios e jogos teatrais entre cada sequência coreográfica para animar e desestabilizar todos. Deu certo! Trabalhamos bastante! Que receptividade, interesse e empenho eles têm! Emocionei-me! Valeu demais! Depois da aula houve uma conversa quando me apresentei e falei sobre o Projeto Trans-Amazônia. Também perguntei aos presentes se conheciam pessoas que poderiam colaborar comigo no que se refere à história da cidade. Silvani, uma das bailarinas, aproximou-se e me passou o contato de sua companheira Fátima Pinho, historiadora com mestrado sobre a religiosidade popular e o Padre Cícero. Estudantes da URCA (Universidade Regional do Cariri) se interessaram por meu trabalho e perguntaram se teria interesse em ministrar uma oficina para eles no próximo dia. Disse sim!

Aula na Associação Dança Cariri – Foto1 ©Jota Júnior Santos

Aula na Associação Dança Cariri – Foto2 ©Jota Júnior Santos

Juazeiro do Norte, quarta-feira, 12 de setembro de 2012.
14h – 17.30hs
Oficina de Teatro Físico Universidade Regional do Cariri (URCA)
Curso Licenciatura em Teatro
Belíssima tarde! Veja o relato de Michele Santos, fotos de Maria e Aldenir:
http://michele-ssantos.tumblr.com/post/31776750171/oficina-de-teatro-fisico-com-tiago-gambogi-pibid
Participantes: Michele, Sâmia, Pertrousson, Wiarlley, David, Jessica, Bárbara, Leandra, Cleílson, Jamal, Max, Daquini, Luíza, Angra Sílvia.

Oficina de Teatro Físico na Universidade Regional do Cariri – Fotos ©Maria & Aldenir

Oficina de Teatro Físico na Universidade Regional do Cariri – Foto2 ©Maria & Aldenir

Oficina de Teatro Físico na Universidade Regional do Cariri – Foto3 ©Maria & Aldenir
20h – 21h15min
Aula de dança contemporânea para os bailarinos profissionais da Alysson Amâncio Companhia de Dança.
Na mesa, no chão, no carro, no banheiro ou na cachoeira
Homem de bigode
Mulher de salto alto
palitam os dentes depois de comerem
bode na hora do almoço
“Gina”, ele diz
“Loira, ela diz.
Natural?
Estrangeira?
Gaúcha?
De onde ela é? Ele diz.
“Desde 1947”, está escrito, ela diz.
Então…ela tem…67 anos!
Impossível, pois não parece!
“Seu bobo…é a foto da marca da caixa de palitos de dente na mesa”, ela diz.
“Estranho nome e muito branquinha a moça”, ele completa.
Dance
love
let it come
here not there
there? Where? Here?
Let your heart open
Just be breath be still move now wait listen move fast as fast as you can explode give it all give more touch touch
Love unconditionally is it possible? How? Howling in the middle of the night! I don’t know, you know you f***ing idiot! It’s all happening! Keep going dear! Again! Stop go to sleep now be in your body (where else could I be? A spirit?) you me they it the cat has those beautiful blue eyes just like yours let it come what is coming? Not sure but no buts just…
Just
Just be
Breathe
Just come
Here
Do you feel it?
What?!
Dance?
Love!
Padre Cícero
Atuação com importância religiosa, política e social para Juazeiro
Acabou com uso abusivo de álcool, fez o milagre da hóstia, cuidou da beata, criou a cidade de Juazeiro, foi prefeito.
A Igreja o penalizou por ele continuar cuidando da beata e não esclarecer sobre o milagre. Aventurou-se fortemente na política.
“E também na guerra!” Jeane disse. “Era um estrategista de guerra”.
“Abençoava os soldados antes de saírem para a guerra contra o Crato”.
Aí surgiu Juazeiro do Norte!

Sérgio – Performance na Praça Padre Cícero – Foto ©Jota Júnior Santos
Juazeiro do Norte, quinta-feira, 13 de setembro de 2012.
16h30min
Performance / improvisação de Tiago Gambogi,apresentando o “clown” Sérgio, seu alter ego, na Praça Padre Cícero
Filmagem: Jota Júnior Santos
Apoio: Associação Dança Cariri e Alysson Amâncio Companhia de Dança
Duração: 12min
Proposta: habitar o movimentado espaço público na Praça Padre Cícero no centro de Juazeiro do Norte em um estado de curiosidade e inocência com meu alter ego Sérgio. A performance tem uma estrutura de 5 momentos, instruções para composição coreográfica em tempo real e um trajeto predefinido na praça:
- Começar devagar. Ver os elementos do espaço. Colocar o corpo de Sérgio nesse espaço como transeunte. Utilizar gestos cotidianos. Aos poucos aumentar seu grau de interesse pelas coisas e permitir que o movimento se modifique.
- Espaço escolhido: grama com círculo e estátua no meio. Registrar os elementos do espaço e “traduzir” em movimento sua forma, corpo, textura. Copiar o movimento das pessoas ao redor. Interagir com os elementos do espaço.
- Espaço escolhido: bancos e área próxima ao relógio. Dançar três palavras que remetem à minha experiência em Juazeiro: sol, romaria, receptividade. Ver o público. Talvez interagir.
- Sair da praça utilizando as imagens do caminho da pousada até o centro descendo pela Rua São Paulo. Explorar o movimento em deslocamento.
- Terminar a performance em frente ao carrinho do homem que vende facas que cortam tudo ou quase tudo.
Sobre a experiência da performance: gostei! Foi positivo. Sérgio foi bem discreto e seu estado partiu da situação do cotidiano de pedestre e se desdobrou em movimento abstrato. No momento próximo ao relógio, talvez eu pudesse ter desenvolvido mais o movimento. Interagi com o lixo no chão e isso virou o mote principal. Queria ter visto mais o movimento. Mais tempo ali talvez. O que você acha? Veja o link no youtube: (12 min) e comente. Obrigado!
http://www.youtube.com/watch?v=MghuJwNgzVM&feature=colike
(video talvez demore a carregar, devido ao tamanho do arquivo e ausência de software para editá-lo).
20hs Ensaio geral do espetáculo “Boa noite Cinderela”
E conversa / feedback após.

Professora Fátima Pinho – Mestra em Religiosidade Popular e o Padre Cícero – Foto ©Tiago Gambogi
Juazeiro do Norte, sexta-feira, 14 de setembro de 2012.
Bela entrevista com Fátima Pinho, historiadora. O material é extenso e necessita de edição em vídeo. Assim que terminamos a entrevista, saímos junto para ver a procissão dos carros. Veja as fotos! Belíssimo, emocionante!

Procissão dos carros – bombons pelas janelas – Foto ©Tiago Gambogi

Procissão dos ônibus e carros – Nossa Senhora das Dores – Foto ©Tiago Gambogi

Criança no ônibus durante a procissão dos carros – Foto © Tiago Gambogi
Em direção ao Crato para assistir “Boa Noite Cinderela – Alysson Amâncio Companhia de Dança”
Pego uma topique, van de transporte alternativo, em direção ao Crato para assistir ao espetáculo “Boa noite Cinderela”, da Alysson Amâncio Companhia de Dança no Teatro do SESC no Crato. A topique está cheia, e vai enchendo mais, até virar “lata de sardinha”, brincou a moça em pé ao meu lado. Ofereço-me para carregar sua bolsa no colo. Um rapaz me pede para levar a sua. E depois outra moça. De repente tenho três bolsas, que quase tocam meu queixo. Mas é divertido, não me importo. “Essa topique pára em tudo quanto é buraco…é só dar sinal que eles param. Se você estiver do outro lado da rua e mostrar seu dinheiro, eles fazem o retorno e te pegam!”. Todos riem. “Olha, se eu desmaiar, vou ter que esperar a próxima parada, pois nem lugar pra cair aqui tem!”. E aí seguimos, eles me dizem onde é o teatro do SESC e eu desço. Paro em um bar, peço uma cajuína. Um menino vem e me diz: “Você fala diferente! Você é de onde?”. A gente se olha e ri.” Uai…cê acha que eu sô de onde?” Mesmo assim ele não sabe.
Boa noite Cinderela é um espetáculo que fala das relações amorosas, da afetividade no mundo contemporâneo. É dançado por um elenco forte e envolvente composto por 7 mulheres e 1 homem. É sobretudo um olhar sobre a mulher, o amor romântico e a idealização do sexo masculino. Quem é o príncipe encantado? Alysson Amâncio brinca com os estereótipos e papéis de cada sexo construindo uma dramaturgia que nos seduz, faz rir e depois, quase que, cruelmente, nos deixa sem chão e sem esperança. Para onde seguir quando o que acreditávamos já não existe mais? A carruagem de cinderela desapareceu? A coreografia usa de um gestual preciso, detalhado e tem sucesso em criar uma assinatura coreográfica ao longo do trabalho. Em alguns momentos Alysson se utiliza de um crescendo na música para criar um clímax e aumento de intensidade na cena. É bonito, dramático. Talvez isso pudesse ser intensificado ainda mais, com uma movimentação ainda mais rápida, produzindo maior envolvimento, mais “páthos”. Mas tudo bem, esse é o meu olhar. O espetáculo é belo, sensual, engraçado, cruel. Utiliza texto falado em alguns momentos. Saio do espetáculo sentindo algo incômodo. Isso é bom. Acertou em cheio! Parabéns a Alysson e à companhia.
Ficha Técnica
Direção, dramaturgia e coreografia: Alysson Amâncio
Interpretes-criadores: Adriano Modesto, Alyne Souza, Faeina Jorge, Kelyenne Maia, Luciana Araújo, Lucivânia Lima, Michele santos, Rosilene Diniz
Pesquisa musical, cabelo e maquiagem: Alyne Sousa e Alysson Amâncio
Figurino: Ariane Morais
Ensaiadora: Luciana Araújo
Iluminação: Luiz Renato
Assistente de iluminação e operação de luz: Raimundo Lopes
Assessoria teatral: Duilio Cunha
Arte: Jota Junior
Produção: Jota Junior, Luciany Maria, Nilo Junior
Fotografia: Diego Linard
Depois do espetáculo fomos a um bar próximo. Atores do Grupo Ninho de Teatro e amigos artistas vêm conversar com o pessoal. De lá saímos pela cidade. Depois vamos a uma chácara grande, onde vários rapazes estavam sozinhos. Festa estranha : música alta, todos meio bêbados e sem falar nada. Um rapaz estava dormindo em um quarto, com uma camisinha em suas mãos. Insólito.
Fomos então para a “Nascente”.
Nascer de novo na Nascente
Chegamos todos na caminhonete de Adriano.
A nascente é uma pequena cachoeira-queda d’água na cidade do Crato, no Ceará.
Frio por lá, difícil de acreditar e a água também.
Adoro cachoeiras, cresci com elas em Minas.
Impossível não entrar na nascente.
Quero nascer de novo!
E lá vou eu.
Nu, na madrugada
caminhando com cuidado em cima das pedras
até entrar no véu da nascente.
Quem é esta noiva?
Aaah…que bom…que delícia…
Água pelo topo da cabeça entra dentro da gente.
“Lavando a alma”, como dizia minha Vó Cila, e saindo pelos pés.
Aaah…que presente!
O frio acorda e dá atenção.
A alegria aquece o coração.
Fico ali parado, com frio, alegre e nu
Secando-me ao vento.
Visto a bermuda, meu corpo quer dançar.
Tem areia no chão
Dedos abertos tateando
as pernas em movimentos de cavalo
pélvis da qual esgueira a cauda de bicho
Dobrando os joelhos
Deslocando-me pelo espaço aberto e entre as árvores
Como ginga de capoeira que se multiplica em movimentos
Todo mundo ali perto
eu estava comigo naquele momento
Faeina se aproxima
a gente se olha
Diz: “Que coisa boa, eu quero também!”
A gente dança dança
e dança mais ainda
Como dois bichos tentando descobrir o movimento um do outro
Descobrir-se através da descoberta do outro?
Ouvindo, respondendo, copiando e propondo
Abandonando-se
Corpo inspiração
sentir
nascente
Contatos, carregadas, giros
deslizes
Derretendo-se
cabelos soltos
coluna flexível
em arco
Arco-íris irradiando do topo da cabeça
Dança de salão a céu
aberto de estrelas
Entrega nos braços pernas costas cabeça coração
Até cairmos
Opa!
Levantar e continuar
Como é bom que coisa boa!
A gente suspira a gente ri a gente compartilha
Será que a gente nasce só uma vez?
Quando é que a gente nasce de novo?
Hoje!
E depois todos nós subimos devagarinho o pequeno barranco de volta à caminhonete de Adriano
Faeina escorrega
Opa! Cuidado moça bonita!
Todos subimos na pequena caminhonete
Todos lá atrás e em pé
Um pequeno pau-de-arara
Ah…não pode não…
Mas o vento…o vento…
A lua…
…as estrelas…
Será que existe perigo em um sonho bom?
Ah…
Ah…
Suspirar…
Estava frio e eu me deitei ali na carroceria da caminhonete
Via as estrelas
Michelle disse a Cleílson:
“Veste essa blusa rapaz! Você prefere ficar ridículo ou ficar com frio?”
Ele olhou pra ela, deu um sorriso maroto e ao mesmo tempo reprovador
Mas vestiu a blusa, agradecido, ficou em silêncio e…aquecido.
A caminhonete caminhota a diante
É longe, vamos que vamos
Ventanear de madrugada
Em silêncio a gente fica ali olhando o céu
Querendo ser estrela
E sim!
Nascer de novo na nascente!
Lembrete: Pesquisar sobre o poeta Patativa do Assaré
Juazeiro do Norte, sábado, 15 de setembro de 2012.
Procissão final – Nossa Senhora das Dores
As imagens dizem tudo. Veja as fotos…

Duas senhoras durante a procissão de Sábado – Foto © Tiago Gambogi

Romeira reza terço antes da celebração da missa – Procissão de Sábado – Foto ©Tiago Gambogi

Missa Sábado – Foto ©Tiago Gambogi
Juazeiro do Norte, domingo, 16 de setembro de 2012.
Descansar. Organizar fotos e vídeos.
Juazeiro do Norte, segunda-feira, 17 de setembro de 2012.
Visita à fábrica de refrigerantes Cajuína

Fábrica da Cajuína em Juazeiro do Norte – Foto ©Tiago Gambogi

Raio X da Cajuína – Foto ©Tiago Gambogi
Juazeiro do Norte, terça-feira, 18 de setembro de 2012.
– 2ª visita à fábrica de refrigerantes Cajuína
– 3ª aula na Alysson Companhia de Dança
Carga horária total: 10horas (3 aulas na Associação Dança Cariri, 1 oficina na URCA, 1 ensaio, 1 espetáculo)
Despedida com amigos. Lindo lindo! Obrigado a todos!
Juazeiro do Norte, terça-feira, 18 de setembro 2012
Perdi o ônibus. Ok, ainda há coisas a resolver. Fui no próximo dia logo cedo.
Observações / descobertas em 3 semanas de viagem
- Certeza: a vida é amor.
- Existe sempre um amigo. Existe segurança.
- Doar é o único caminho adiante.
- Estar aberto: conectar, conviver, encontrar.
- O Nordeste brasileiro realmente é muito quente!
- O que a gente visualiza acontece. Se não aconteceu, ainda irá acontecer ou de alguma outra forma. Ou talvez não.
- Aqui há muitas motos. O trânsito é caótico. Algumas andam na contramão.
- A segurança está relacionada a como administramos nossa presença no tempo e espaço – medo ou coragem? Olhos que veem ou mente que projeta nossas loucuras nos outros? Será que tudo é projeção?
- Tudo tem um cheiro. O caju, a pele suada do corpo que dança, a água que corre na Rua São Paulo.
- Fale alto e com segurança. Veja o que há de bom nas pessoas. Não ignore a negatividade de nada, mas veja e fale sempre sobre as coisas positivas inicialmente.
- A arte popular e a arte contemporânea podem chegar a qualquer lugar.
- Eu chego sozinho. Faço amigos. Saio sozinho. Tudo recomeça na próxima cidade. Tudo lindo. Tudo diferente. Às vezes cansa, mas é um presente estar lidando com essa forma do aqui e agora.
- Solidão. Solitário. Sozinho. São três palavras bem diferentes.
- A pele se bronzeia e o corpo pode assumir três tonalidades.
- A pronúncia do “d” e do “t” no Nordeste é o grande diferencial do sotaque. É charmoso! Eles dizem que quem é do sul fala chiando.
Outros encontros:
Francisco – homem da pousada, cara fechada no primeiro dia, mas aos poucos fomos criando amizade e rimos bastante.
Yoram – taxista, nome inconfundível, eu o vi na rodoviária quando estava saindo de Juazeiro.
Jota Júnior Santos – produtor, diretor da Associação Dança Cariri, estudante de Artes Visuais na URCA. Obrigado pela hospedagem e conversas no último dia, amigo!
Luciany Maria – produtora, tesoureira da Associação Dança Cariri. Obrigado pelo carinho e companhia!
Integrantes da Companhia Alysson Amâncio – Adriano Modesto, Alyne Souza, Faeina Jorge, Kelyenne Maia, Luciana Araújo, Lucivânia Lima, Michele Santos, Rosilene Diniz.
Alunos de dança na Associação Dança Cariri.
Alunos de teatro na Universidade Regional do Cariri
Johnny – músico peruano da banda Los Muchachos, mora em Recife (PE) e veio tocar em Juazeiro e vender seus CDs na Praça Padre Cícero.
Pessoal da pousada – Sônia, Maria, Seu Mauro.
Elder – vendedor “caixeiro viajante”, originário de Oeiras (PI), minha próxima cidade.
Luciany, Ruth, Seu Tico, Luciene – na fábrica do refrigerante Cajuína / São Geraldo.
Dinho – artista plástico.
E vou seguindo pela Rodovia Transamazônica Brasilzão afora em direção a Oeiras, Piauí. Obrigado a Juazeiro do Norte. Ao Padre Cícero. Obrigado a todos que me receberam tão bem e por sua generosidade – Alysson, Luciany e seus pais, Jota Júnior, Faeina, Michele, Rosilene, Adriano, Alyne, Kelyenne, Luciana, Lucivânia, Sâmia, Cleílson, Fátima Pinho, o pessoal da Universidade, aos entrevistados, Sônia, Maria e Seu Mauro,– Obrigado! Voltarei em breve. Continuaremos os cursos e vocês verão o espetáculo Trans-Amazônia! Grande beijo abraço carinho amor paixão! Dá vontade de escrever mais…está longo…mas fico por aqui…Tiago

Despedida com meus novos amigos em Juazeiro – Michele, Faeina, Jota Júnior, Jeane, eu, Kellyene – obrigado! Foto ©Bar do Zé